
Olá sapiens!
Hoje trago para vocês uma reflexão baseada em uma tese de doutorado da Universidade de São Paulo que lança luz sobre o uso potencial da Hemopressina (Hp), um peptídeo derivado da hemoglobina, como ferramenta terapêutica no manejo da dor neuropática diabética.
A neuropatia periférica diabética é uma complicação comum e debilitante do diabetes, caracterizada por hiperalgesia (resposta exagerada à dor) e alodínia (dor causada por estímulos que normalmente não provocariam dor). Sabemos que o sistema endocanabinoide participa ativamente da modulação da dor, principalmente através do receptor CB1 — um dos principais alvos dos canabinoides.
A pesquisadora Elaine Flamia Toniolo, em sua tese de doutorado defendida no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, explorou os efeitos da Hemopressina, um agonista inverso do receptor CB1, no modelo experimental de neuropatia diabética em camundongos induzida por estreptozotocina (200 mg/kg).
O tratamento com Hp (2,5 mg/kg, por 28 dias) reverteu a hipersensibilidade mecânica nos animais diabéticos — efeito que se mostrou específico para a via nociceptiva, com envolvimento direto dos receptores CB1, astrócitos e micróglias na medula espinal.
Além disso, a Hp demonstrou um efeito neuroprotetor, prevenindo a desmielinização do nervo isquiático e mantendo os níveis do fator de crescimento nervoso (NGF), fundamental para a integridade das fibras nervosas.
Outro achado relevante da tese foi a atuação da Hp na modulação da sensibilidade térmica em animais geneticamente modificados (knockout para o receptor opioide mu - KO MOR). Observou-se que a Hp participa do controle da dor por meio do aumento da dimerização entre os receptores CB1 e DOR (receptor opioide delta) na medula espinal — uma interação promissora no desenvolvimento de novas abordagens para o tratamento da dor neuropática.
Essa pesquisa, disponível na íntegra através do link https://doi.org/10.11606/T.42.2015.tde-09122015-064117, aponta a Hemopressina como uma molécula com potencial terapêutico no alívio da dor neuropática associada ao diabetes — uma condição que ainda carece de alternativas eficazes e seguras.
Mais uma vez, vemos a ciência abrindo caminhos inovadores — e o sistema endocanabinoide como protagonista na busca por soluções para dores crônicas.
Cuide-se!