O uso medicinal da cannabis tem avançado significativamente nos cuidados com a saúde feminina. Condições como endometriose, cólicas menstruais, alterações da menopausa e sintomas da TPM já vêm sendo abordadas com o auxílio da planta. Mas será que esse potencial se estende também ao tratamento da vaginose bacteriana?
O que é a Vaginose Bacteriana?
A VB, como é frequentemente abreviada, é uma condição ginecológica comum, caracterizada pelo desequilíbrio da microbiota vaginal. Em vez do predomínio saudável de lactobacilos — que mantêm o pH ácido e protegem contra patógenos —, ocorre o crescimento excessivo de outras bactérias, especialmente a Gardnerella vaginalis.
Embora não seja classificada como uma infecção sexualmente transmissível, a VB pode estar relacionada a fatores como:
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Múltiplos parceiros sexuais;
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Uso exagerado de duchas ou produtos íntimos agressivos;
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Tratamentos com antibióticos;
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Oscilações hormonais (como na gravidez ou menstruação).
Os sintomas mais comuns incluem corrimento acinzentado com odor forte (muitas vezes comparado a “peixe”), coceira, ardência e desconforto. Apesar de algumas mulheres serem assintomáticas, a vaginose não tratada pode aumentar o risco de complicações, sobretudo na gravidez.
Tratamento Convencional
Geralmente, a abordagem médica envolve antibióticos como o metronidazol ou a clindamicina, em comprimidos ou cremes vaginais. Ainda assim, muitas pacientes enfrentam recorrência da condição, especialmente devido à formação de biofilmes — estruturas bacterianas que oferecem resistência ao tratamento.
E Onde Entra a Cannabis?
A cannabis medicinal tem ganhado espaço não apenas pelo seu potencial anti-inflamatório e analgésico, mas também por suas propriedades antimicrobianas.
Em um estudo recente publicado na revista Antibiotics (2025), pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Hadassah-Hebrew University Medical Center demonstraram que o canabidiol (CBD) teve efeito antibacteriano e antioxidante contra a Gardnerella vaginalis. O composto foi capaz de inibir a formação e até mesmo romper biofilmes bacterianos resistentes, uma das maiores barreiras ao tratamento eficaz da VB.
Além do CBD, outros canabinoides como o CBG (canabigerol) e o CBN (canabinol) também mostraram propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias em estudos iniciais, reforçando o interesse científico no uso da cannabis contra infecções ginecológicas.
Fonte: Cannect Life, com base na pesquisa científica publicada em Antibiotics (2025).
Como a Cannabis Atua no Organismo Feminino?
A ação da planta ocorre por meio do Sistema Endocanabinoide, um complexo sistema de sinalização que regula o equilíbrio corporal — da resposta imune ao controle da dor e do humor. Esse sistema está presente em tecidos femininos como ovários, útero e vagina.
Com isso, os fitocanabinoides da cannabis podem agir localmente (através de pomadas, lubrificantes e supositórios) ou sistemicamente (em forma de óleos, cápsulas ou gomas) para promover alívio da dor, reduzir inflamações e até amenizar sintomas emocionais como estresse e ansiedade — comumente associados a desequilíbrios vaginais.
Considerações Finais
O potencial da cannabis no manejo da vaginose bacteriana é uma fronteira promissora. Apesar da necessidade de mais ensaios clínicos, os resultados já indicam que a planta pode ser uma aliada importante, principalmente nos casos em que os tratamentos convencionais falham ou quando há recorrência frequente da condição.
Se você está considerando a cannabis como opção terapêutica, converse com um profissional de saúde que entenda do tema. O uso deve sempre ser individualizado e com acompanhamento médico especializado.