
🧪 Magnésio: o íon esquecido e suas implicações clínicas
Publicado originalmente em 1994, o artigo “Magnesium: the fifth but forgotten electrolyte”, de R.J. Elin, permanece extremamente atual e relevante. O autor chama atenção para a negligência histórica do magnésio na prática médica, apesar de seu papel fundamental na homeostase celular e sua relação íntima com distúrbios neuromusculares, cardiovasculares e metabólicos.
🔬 O quinto eletrólito essencial
Ao lado do sódio, potássio, cálcio e cloro, o magnésio integra o grupo dos eletrólitos essenciais, mas é frequentemente subdosado, subtratado e subestimado. Apenas 1% do magnésio corporal está presente no sangue — a maior parte encontra-se intracelular ou armazenada nos ossos. Isso explica por que os níveis séricos normais podem coexistir com depleção tecidual significativa, especialmente em pacientes graves.
⚙️ Papel fisiológico multifacetado
O magnésio participa de mais de 300 reações enzimáticas, sendo crucial para:
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Estabilização de membranas celulares
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Modulação da excitabilidade neuromuscular
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Controle do tônus vascular e pressão arterial
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Contração miocárdica e condução elétrica cardíaca
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Regulação dos níveis de cálcio, potássio e fósforo
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Modulação da liberação de PTH e sensibilidade à insulina
⚠️ Quando suspeitar de hipomagnesemia?
A deficiência de magnésio pode ser silenciosa ou se manifestar de forma dramática. O quadro clínico varia desde irritabilidade e tremores até convulsões, tetania, arritmias ventriculares e prolongamento do intervalo QT.
Devemos considerar a dosagem de magnésio (idealmente o iônico) nas seguintes situações:
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Hipocalemia ou hipocalcemia refratárias
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Uso de diuréticos (especialmente furosemida e tiazídicos)
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Uso prolongado de IBP (como omeprazol)
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Síndrome de realimentação
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Diarreias crônicas e síndromes disabsortivas
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Alcoolismo
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Pós-transplante de órgãos sólidos
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Pancreatite aguda e sepse
💡 Um ponto-chave: reposição eficaz
O tratamento da hipomagnesemia é simples, acessível e seguro. Sua reposição, sobretudo em pacientes críticos, pode prevenir complicações cardiovasculares graves, como arritmias ventriculares (inclusive torsades de pointes) e espasmos coronarianos. Em determinadas situações, como na eclâmpsia, a administração de sulfato de magnésio tem papel terapêutico consagrado.
Além disso, a correção do magnésio é muitas vezes condição necessária para o sucesso da reposição de potássio e cálcio.
📚 Conclusão
Mais de duas décadas após sua publicação, o alerta de Elin permanece válido: não podemos continuar ignorando o magnésio. Seu papel na fisiologia e na prática clínica é amplo demais para ser relegado a segundo plano. Incorporar a dosagem e a correção do magnésio à rotina de avaliação de pacientes graves é um passo simples — e muitas vezes determinante.