
A depressão resistente ao tratamento (DRT) continua sendo um dos maiores desafios da psiquiatria moderna, afetando milhões de pessoas no mundo todo e exigindo soluções terapêuticas inovadoras. Nos últimos anos, psicodélicos como a psilocibina e a ayahuasca têm ganhado destaque pelas respostas rápidas que promovem em pacientes refratários. Entre esses compostos, a N,N-dimetiltriptamina (DMT) desponta como uma opção promissora – e com vantagens práticas significativas.
A DMT é um psicodélico natural de ação ultracurta, presente na ayahuasca, mas também produzida endogenamente pelo organismo humano. Ao contrário da ayahuasca, que combina a DMT com inibidores da monoamina oxidase (IMAO), a DMT isolada – especialmente quando vaporizada – atua de forma rápida, segura e sem os riscos de interação medicamentosa dos IMAOs.
Um recente estudo clínico de fase 2a, publicado em 2025, investigou os efeitos do DMT inalado em pacientes com DRT. O resultado foi surpreendente: 85,71% dos pacientes apresentaram resposta significativa ao tratamento, e 57,14% entraram em remissão, apenas sete dias após a administração única da substância. Além disso, não foram registrados eventos adversos graves, reforçando a segurança do protocolo. A redução média na Escala de Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS) foi de 21,14 pontos, com efeitos se estendendo por até três meses. A ideação suicida, um dos sintomas mais preocupantes da DRT, também caiu de forma importante no dia seguinte à dose.
Outro estudo, dessa vez exploratório, avaliou o DMT intravenoso em pacientes com depressão maior resistente. Houve redução significativa nos escores da Escala de Hamilton (HAMD-17) apenas um dia após a aplicação, o que reforça o potencial antidepressivo rápido da substância. No entanto, foram observados efeitos colaterais como aumento transitório da pressão arterial, taquicardia e episódios de ansiedade durante a experiência psicodélica — efeitos que se resolveram de forma espontânea.
Apesar dos resultados animadores, uma revisão sistemática publicada em 2021 alertou para a necessidade de mais ensaios clínicos rigorosos e com maior número de participantes. Embora a DMT e outros psicodélicos estejam se mostrando eficazes em contextos bem controlados, a transição para a prática clínica ampla exige mais dados sobre segurança a longo prazo, mecanismos de ação e padronização das doses.
Em tempos em que a psiquiatria busca terapias com ação mais rápida e duradoura, especialmente para quadros graves, a DMT surge como uma alternativa viável, não invasiva, de curta duração e custo-efetiva. Ainda é cedo para afirmar que ela será incorporada aos protocolos terapêuticos convencionais, mas o caminho está aberto – e as evidências são promissoras.
Fontes:
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Falchi-Carvalho M, Palhano-Fontes F, et al. Neuropsychopharmacology, 2025.
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D’Souza DC, Syed SA, et al. Neuropsychopharmacology, 2022.
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Więckiewicz G, Stokłosa I, et al. Pharmaceuticals (Basel), 2021.