
Por Dr. Luiz Guilherme Camargo de Almeida
Nefrologista e Clínico Geral • CRM/AL 6134
Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica – Regional Alagoas
No dia 17 de maio, Dia Mundial de Combate à Hipertensão Arterial, é importante destacar um grupo de pacientes que merece atenção especial: aqueles que vivem com lúpus eritematoso sistêmico (LES).
O lúpus é uma doença autoimune crônica que causa inflamações em múltiplos órgãos — incluindo pele, articulações, rins e coração. A hipertensão arterial é uma comorbidade frequente nesses pacientes e representa um fator de risco importante para a progressão do dano renal e para eventos cardiovasculares graves.
A ciência tem demonstrado que a hipertensão no lúpus não surge apenas como consequência da doença renal, mas também de mecanismos inflamatórios e imunológicos. A ativação de receptores Toll-like e a liberação de citocinas como o TNF-alfa têm sido implicadas tanto na atividade autoimune quanto no aumento da pressão arterial. E mais: a hipertensão resistente ao tratamento — aquela que não se controla mesmo com três ou mais medicamentos — é mais comum em pessoas com LES.
O controle rigoroso da pressão arterial é, portanto, uma prioridade. E aqui, além da abordagem medicamentosa convencional, surge uma pergunta cada vez mais frequente entre pacientes e profissionais: a cannabis medicinal pode ajudar?
A resposta precisa ser cautelosa, mas promissora. Já existem estudos iniciais sugerindo que os canabinoides — especialmente o canabidiol (CBD) — possuem propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras que podem ser úteis em algumas manifestações do lúpus, como dor crônica, insônia, ansiedade e mesmo rigidez articular. Além disso, há interesse crescente no possível papel vasodilatador e hipotensor do CBD, embora os dados ainda sejam preliminares.
Entretanto, a cannabis medicinal não substitui os medicamentos anti-hipertensivos ou imunossupressores tradicionais, nem é indicada de forma ampla ou genérica para todos os pacientes com lúpus. Seu uso deve ser sempre avaliado caso a caso, em diálogo entre paciente e equipe médica, com acompanhamento criterioso e prescrição responsável.
Em especial para pacientes com lúpus e comprometimento renal, qualquer intervenção deve respeitar os princípios da nefroproteção — e isso inclui atenção redobrada aos efeitos hemodinâmicos dos canabinoides.
Portanto, o recado para este 17 de maio é claro: a hipertensão em quem tem lúpus não é apenas um dado a mais no prontuário. É um fator crítico de desfecho clínico. Monitorar, prevenir e tratar com seriedade é salvar órgãos e vidas.
E no futuro? Quem sabe a cannabis medicinal venha a se tornar mais um recurso nesse arsenal — sempre com ciência, ética e bom senso.
Cuide-se!