
A vitamina E já foi considerada uma espécie de “elixir da longevidade” — mas a medicina baseada em evidências vem mostrando que a realidade é bem mais complexa. Hoje, sua suplementação só encontra respaldo sólido em contextos muito específicos, sendo o principal deles a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), também conhecida como esteato-hepatite metabólica (MASH/MASLD).
De acordo com diretrizes atualizadas da American Association for the Study of Liver Diseases (AASLD) e do American College of Gastroenterology (ACG), a suplementação de 800 UI/dia de α-tocoferol pode ser considerada em adultos não diabéticos com MASH comprovada por biópsia, com base em ensaios clínicos como o estudo PIVENS, que demonstraram melhora histológica e redução de enzimas hepáticas nesses pacientes.
No entanto, os benefícios não se estendem à redução de fibrose hepática, e dados sobre desfechos clínicos relevantes, como mortalidade e progressão para cirrose, ainda são limitados. Estudo retrospectivo recente sugere possível melhora na sobrevida livre de transplante, mas essas evidências precisam de confirmação.
Fora desse cenário, não há justificativa científica robusta para o uso de vitamina E como prevenção de doenças crônicas em adultos saudáveis. Meta-análises e revisões sistemáticas não mostraram benefícios em termos de eventos cardiovasculares, câncer ou mortalidade geral. Além disso, o uso prolongado e em doses elevadas (≥800 UI/dia) pode aumentar riscos como AVC hemorrágico e câncer de próstata, alertando para o perigo do uso indiscriminado.
E onde entra a cannabis medicinal?
A abordagem terapêutica de condições hepáticas, inflamatórias ou metabólicas tem evoluído. A cannabis medicinal, especialmente seus canabinoides como o CBD, vem sendo estudada por suas potenciais propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Embora ainda não haja aprovação formal para seu uso em MASH, estudos pré-clínicos sugerem efeitos promissores no controle da inflamação hepática, resistência insulínica e esteatose.
Assim como a vitamina E, a cannabis medicinal deve ser considerada apenas dentro de um plano terapêutico individualizado e fundamentado em evidências, jamais como substituto de intervenções bem estabelecidas. É papel do médico avaliar com critério onde essas alternativas se encaixam — com rigor, ciência e responsabilidade.
Em resumo:
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✅ A vitamina E pode ser útil em casos específicos de MASH em adultos não diabéticos.
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❌ Não há evidência para seu uso generalizado na prevenção de doenças crônicas.
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⚠️ Suplementação em altas doses pode trazer riscos sérios à saúde.
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🌿 A cannabis medicinal aparece como aliada em potencial, ainda em fase de estudo, e deve ser usada com orientação médica.
A medicina do futuro é personalizada, integrada e, acima de tudo, baseada em ciência.