
O crescimento da Doença Renal Crônica (DRC) em países de baixa e média renda já é realidade: silenciosa, incapacitante e de alto custo, a DRC avança sem que muitos saibam que têm a doença. Um estudo recém-publicado no Kidney International Reports apresentou uma solução prática e escalável para o diagnóstico precoce: testes no ponto de atendimento (POCT) aliados à tecnologia digital para rastreamento de DRC em populações de alto risco, na Índia.
Foram avaliadas mais de 2 mil pessoas em áreas urbanas com comorbidades e regiões rurais com alta incidência de DRC de etiologia desconhecida (CKDu). O resultado:
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Quase 60% apresentavam DRC, muitas em estágio avançado;
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Menos de 2% sabiam da condição, mesmo com fatores de risco importantes;
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Quase metade dos pacientes rurais com DRC não tinham comorbidades conhecidas.
Com uma gota de sangue e uma amostra de urina, além de um aplicativo móvel simples, profissionais de saúde primária puderam detectar, classificar e orientar pacientes para cuidados renais, reduzindo a dependência de grandes centros urbanos e laboratórios.
E a Cannabis Medicinal?
Embora o estudo não tenha tratado diretamente do uso de fitocanabinoides, é impossível ignorar a interface com a prática clínica nefrológica e a atenção primária. Com a popularização da cannabis medicinal, inclusive em populações com dor crônica, insônia, náuseas e sintomas associados à DRC, o rastreamento renal torna-se ainda mais crucial.
Isso porque:
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Alguns canabinoides e metabólitos são eliminados pelos rins;
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Pacientes com DRC podem ter respostas alteradas a doses padrão;
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Há relatos, embora ainda preliminares, de que compostos como o CBD possam modular inflamação renal, mas sem evidência robusta para uso clínico específico em DRC.
Portanto, antes de prescrever ou autorizar o uso de cannabis medicinal, especialmente em populações vulneráveis ou com doenças silenciosas como a DRC, é ético e necessário rastrear a função renal com ferramentas acessíveis — como as aplicadas nesse estudo indiano.
Conclusão
O modelo indiano — com POCT, aplicativos móveis e foco na atenção primária — é viável, replicável e impactante. No Brasil, especialmente em comunidades ribeirinhas, indígenas, periféricas ou semiurbanas, adotar estratégias semelhantes pode revolucionar o diagnóstico precoce da DRC.
E, à medida que a cannabis medicinal avança como recurso terapêutico complementar, o cuidado com o monitoramento de função renal deve caminhar junto, evitando riscos, prevenindo agravos e promovendo saúde com segurança.
Referência:
Krishna CR et al. Point-of-Care Testing and Integrated Digital Health Technology for CKD Screening in High-Risk Populations of India. Kidney Int Rep. 2025. https://doi.org/10.1016/j.ekir.2025.04.014